30 de Outubro de 2006

Ao cair da tarde, depois de sair do trabalho e ir beber um traçado na taberna do Ti Miguel, seguia para casa, a caminho da sopa, pela calçada das Trinas. Há já algum tempo que a vejo sentada cá fora, uma velhinha de idade indefinida (setentas? oitentas?) com um vestido garrido, uma rosa no cabelo e um olhar perdido no horizonte. Durante algum tempo não liguei muito mas depois despertou-me curiosidade. No entanto e porque gosto de respeitar a privacidade dos outros, e também por um pouco de pudor, nunca me meti a conversar. Uns meses passaram e, como todas as rotinas, a sua regular presença deixou de me chamar a atenção. Acabei, por um mero acaso, de saber a história completa.

Aos Sábados à noite juntávamos uns amigos e íamos petiscar e beber uns copos no Papagaio Dourado, snack-bar e restaurante propriedade do amigo Júlio (belas pataniscas e dobradinhas lá petisquei). Numa noites dessas uma rapaziada que não aguentava bem os copos (antigamente dizia-se que tinham mau vinho) decidiu, por causa do futebol, armar barraca. Puxa de chapada daqui, de murro dacolá e de insulto soez. Normalmente deixo que as pessoas resolvam os seus assuntos por si próprias, são adultos e vacinados portanto que se desunhem, mas nunca gostei de ver uma luta desequilibrada, portanto decidi por algum peso do lado mais fraco. Fiquei a saber, pelas caras assustadas, que um tipo da minha altura com uma mesa nas mãos levantada acima da cabeça mete respeito a alguns valentes e fá-los recordar assuntos urgentes que têm que ser tratados noutro local.

Na hora da volta para casa vinha a conversar com o fulano a quem tinha salvado as costas e descobri que morava na calçada das Trinas. Palavra puxa palavra e acabei por falar da tal velhinha e da minha curiosidade. Primeiro entupiu mas depois lá disse que era sua avó e debaixo de um desses candeeiros públicos já antigos e de luz baça contou-me o caso todo. A avó, de nome Clarinda da Luz (nome que achei delicioso), quando muito nova, costumava depois de ajudar a mãe nas lides da casa, ao fim da tarde, de sentar-se num banquinho à porta de casa a gozar os últimos raios de sol, com uma rosa, que tinha tirado do grande jarrão à entrada do corredor, no cabelo. Um dia um rapaz que passava deitou-lhe um piropo a que ela respondeu e palavra puxa palavra pouco tempo era passado e já estavam com ternuras. Não demorou um ano e eram casados. Mudaram-se para a calçada das Trinas onde alugaram uma casa, a parte de cima era a habitação e o rés-do-chão a oficina de marceneiro dele. Ali viveram, felizes, e ali tiveram farta prole que naqueles tempos era mesmo assim, os putos vinham às carradas. No ano anterior ele tinha morrido e ela nunca mais tinha recuperado completamente da perda agindo daquela maneira que os deixava a todos um bocado embatucados.

Lá nos despedimos com ele tornando a agradecer a minha ajuda e foi cada um à sua.

Na semana seguinte, depois do traçado do costume, tornei a passar pela calçada das Trinas e lá estava ela de olhar perdido no horizonte e com a rosa no cabelo. Andei para a frente e então parei e olhei para trás para a rever, foi então que compreendi tudo. Ela estava ali à espera que ele torna-se a passar e lhe deita-se um piropo.

publicado por carlos lopes às 16:29

27 de Outubro de 2006
Mas afinal quem sou eu? E quem é aquele que pergunta quem eu sou?
                                           (Boaventura de Sousa Santos)
publicado por carlos lopes às 08:54

24 de Outubro de 2006
Isto está bastante difícil para arranjar tempo para a net. Um salto ou outro entre tarefas, um ou dois minutos roubados ao pão de cada dia.
Ontem tirei esta frase do filme Sahara com Humphrey Bogart, passado no deserto e durante a II Guerra Mundial. Como gostei muito partilho-o com vocês.
Prisioneiro Italiano(uma excelente interpretação de J. Carrol Naish) para prisioneiro Alemão:
- Mussolini não é tão esperto como Hitler.
Só consegue vestir os italianos para parecerem ladrões, traidores e assassinos.
Não pode, como Hitler, fazê-los sentir assim.
Não pode, como Hitler, apagar-lhes da consciência o saber o que está certo e o que está errado.
Ou fazer-lhes buracos na cabeça para plantar os seus dez mandamentos. Rouba o teu vizinho! Engana o teu vizinho! Mata o teu vizinho!
publicado por carlos lopes às 13:39

20 de Outubro de 2006
Tentei várias vezes durante o dia meter aqui um video do youtube no modo embebido e seguindo as indicações que encontrei no blog dos blogs do sapo (Como colocar um vídeo)
e o resultado foi népias.  Portanto aqui vai a ligação em HTML. É uma legendagem muito divertida dedicada ao Pinto da Costa:

Entrevista sobre Pinto da Costa
publicado por carlos lopes às 19:06

19 de Outubro de 2006
Isto tem chuvido que até os cães bebem de pé.
My umbrella perdeu a batalha com uma rabanada de vento.
Tive que fazer marcha atrás com o carro porque o rio Este tinha galgado a margem num ponto mais baixo e a água estava a metade da altura do carro (como o descobriu o carro que ia á minha frente).
publicado por carlos lopes às 11:43

16 de Outubro de 2006
A revista do jornal Expresso, de seu nome ÚNICA, trás esta semana um artigo sobre a cantora Mísia com algumas revelações inéditas. Eu já a admirava como cantora mas ela é mais que só isso, é uma grande mulher. O jornalista que faz o artigo, Bernardo Mendonça, tem um blogue dentro da rede do Expresso (Repórter LX) onde fala desta entrevista. Por achar que vale muito a pena, e fazendo um pouco de serviço público, deixo aqui o link, é só clicar com o botão do rato aqui:
Reporter LX
publicado por carlos lopes às 19:47

Pronto, é oficial. Este blogue transformou-se numa chatice .
A semana passada só duas pessoas visitaram este blogue, dados do sitemeter , e só viram uma página.
Bom, também só postei três vezes mas mesmo assim é muito pouco.
Alguma coisa terá que mudar.
Talvez eu.
Ou então é a neura das segundas-feiras a atacar.
Raios e coriscos!
publicado por carlos lopes às 09:39

13 de Outubro de 2006
Pois é, tantas vezes a Comissão Nobel atribuiu o Nobel da Paz fazendo jogo politico mas agora acertou em alguém e numa obra que o merecem absolutamente. O Banco Grameen criado por Muhammad Yunus é talvez a mais importante arma na luta contra a pobreza a nível mundial. No Bangladesh, onde foi criado, 90% de quem procura o seu microcrédito são mulheres de baixos rendimentos a quem nenhum outro banco concederia crédito.
publicado por carlos lopes às 15:26

12 de Outubro de 2006
Há canções que chegam e batem à porta do coração mas apenas os ouvidos as ouvem. Outras há que depois de as ouvirmos as esquecemos até ao dia em que mergulhamos no fundo do coração (olá Tom Waits ) e as descobrimos instaladas de armas e bagagens como se donas fossem da caixinha das emoções. E assim como há mulheres-flor e mulheres-pedra , também há mulheres-canção , melodias que soarão para sempre nos nossos ouvidos quando eles escutam o coração.
A Elis Regina cantava "navegar é preciso, viver não é preciso" e divagar também é preciso.
publicado por carlos lopes às 13:54

09 de Outubro de 2006

Personagem 1 – Ele:

Quando saía do trabalho parava sempre naquela esquina da rua, encostava-se à parede e esperava que ela passa-se. Só depois se ia embora. Não sabia o que o tinha atraído nela; se o seu modo de andar, se a maneira como inclinava a cabeça quando sentia que estava a ser observada, se o seu sorriso quando via um bebé que passava adormecido no seu carrinho ou se a cor e a luz dos seus olhos sorridentes. Sabia apenas que sentia o coração bater mais depressa e que as mão ficavam suadas.

 
Personagem 2 – Ela:

 
Balconista numa loja de têxteis, ela saía do emprego e seguia sempre aquele caminho. Era mais longo que outros mas a primeira vez que por lá passara tinha reparado nele. Gostou do seu modo ligeiramente altivo embora tudo nele indicasse ser um operário. E gostava também da maneira como ele a olhava; fazia-a sentir-se viva.

 
Personagem 3 – Narrador

 
Reformado por invalidez e viúvo ele ficava durante todo o dia sentado à janela daquele rés-do-chão observando quem passava e imaginando histórias acerca das pessoas que via passar.

 
Personagem 4 – Criança

 
Neto do narrador e com cerca de sete/oito anos de idade, escutava de olhos espantados as histórias que o avô ia inventando acerca das pessoas que passavam.


(Senhor realizador pode começar a dizer: Luz! Camara! Ação!)

publicado por carlos lopes às 19:10

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