01 de Setembro de 2008

 A troça – mais ou menos paternalista, mais ou menos velada – em relação à espontaneidade de Vanessa Fernandes, com os seus «fogo, pá!», os seus«um gajo sai» e os seus «caraças» mostra que além de racistas (as coisas que fui ouvindo, ao longo destes dias, sobre as competências específicas de «pretos» e «chinocas» davam para um Tratado sobre a Estupidez Humana), permanecemos também classistas (a estratificação das pessoas segundo a sua origem social é uma outras forma de segregação, tão boçal como a que atribui valor às pessoas segundo a cor da pele).

Confesso que também tenho os meus preconceitos de classe: quando ouço alguém falar da «implementação de uma estratégia estruturante no âmbito de uma consensualização programática» passo-me. Tenho até vontade de dizer: «Fogo, pá! O que é que esse paleio de merda, todo espremidinho, quer dizer?» Não digo, porque já não tenho a esfuziante autenticidade da Vanessa. Também ela terá tempo de aprender a dizer aquilo que pensa no código social dos encolhidos da vida, que é o que passa por bom português. Mas não temo que ela deixe de dizer o que pensa, nem de pensar pela sua cabeça – como tantas vezes acontece às pessoas menos resistentes à «educação» - porque uma força daquelas não se quebra. E porque tem bom berço – o valente pai Venceslau, que lhe vai gritando, em todas as competições: «Sofre, Vanessa, sofre até ao fim!», e uma família de gente que sabe o que significa a palavra brio. Que se lixem os bem pensantes, Vanessa. Quando tiveres tempo para ler Pessoa, descobrirás que, além de frases como «a minha pátria é a língua portuguesa», que já deves ter ouvido a um ror de ministros, também escreveu (pela mão de Álvaro de Campos): «Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!» Ora aqui está uma citação que nunca que nunca te deixará ficar mal.

(Inês Pedrosa, jornal Expresso de 30 de Agosto)

 

E ainda perguntam porque é que eu gosto tanto de ler o que esta rapariga escreve!

publicado por carlos lopes às 20:01

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