“Há mais de 500 anos que a beleza dos Açores guarda dois segredos fundamentais. Um segredo divino e outro humano. O primeiro respira no dom prodigioso das forças telúricas e marinhas envoltas num abraço fecundo, onde a vida se renova continuamente, por vezes no sobressalto da crusta em dilaceração, noutras vezes na explosão da promessa ardente de nova terra, dessa que jaz sob o Oceano, e se derrama com estrépito doa comandos vulcânicos. Mas o segundo segredo, o segredo humano é o mais importante para compreender a raridade dos Açores.
Aquelas mulheres e homens que povoaram os Açores não têm nada a esconder ou a lamentar em meio milénio de construção da sua casa no arquipélago. Os colonos não tiveram que travar guerras de extermínio para expulsar anteriores ocupantes. O seu anseio por uma vida melhor não teve que significar a morte e opressão de outros seres humanos, como tanta vez sucedeu em «novos mundos», banhados pelo Atlântico ou pelo Pacifico. Nos Açores não existiam Incas, Iroqueses ou Maoris. Apenas uma natureza poderosa, de cortar a respiração. O seu sonho de vida melhor não levou essas mulheres e homens a uma terra de leite e mel. A raiz do seu sucesso foi e é o seu suor, o seu trabalho tenaz, a sua coragem, a sua resiliência comunitária, o seu profundo e religiosos respeito pelos elementos, a sua fina inteligência e tacto cultural, de que tanto têm beneficiado Portugal e a Europa.
Agora que o mundo, numa crise profunda e global, precisa de ser recriado, se a humanidade quiser sobreviver, todos teremos que aprender com o segredo dos Açores, com a utopia realizada de uma habitação serena e duradoura neste território de lava e espuma.”