Sem tempo nenhum.
Mas, no meio de velha e amarelada papelada, isto que eu escrevi quando tinha vinte e poucos anos. Vai assim como o escrevi numa velha máquina de escrever.
Senhora dos olhos d’água ,
Cabelo cor de d’azeitonas ,
Dona das profundidades,
Senhora do superficial.
Mestra suprema do amor,
Feiticeira de corações,
Imagem negra de catedral,
Incomparável donzela atlântica.
Magnificência luminosa,
Luz da noite escurecida,
Candeia que vai na frente,
Luz do sol da minha vida.
Que a viva imagem da paz
Te traga a ventura.
Que o senhor do profundo
Te dê a satisfação.
Senhora do coração terno,
Que o meu tanto ama.
Paixão dos deuses atlantes,
Meus antepassados,
Antigos do saber total.
Ó imagem luminosa da paz,
Infinita de paciência,
Velada pela pomba branca.
Senhora suave e ligeira,
Como a calmaria na canícula.
Senhora da grandeza terrível,
Como a tempestade marítima.
Que a viva imagem da paz
Te traga a ventura.
Que o senhor do profundo
Te dê a satisfação.
Senhora minha, minha senhora,
Nome que eu murmuro
Baixinho na noite escura,
Nome que eu grito sob o sol do meio-dia.
Minha amante amada
(ternura do meu coração).
Infinita ventura,
Capacidade intrínseca
Da infinita alma humana.
Água calma do regato,
Ode à turbulência da foz.
Que a viva imagem da paz
Te traga a ventura.
Que o senhor do profundo
Te dê a satisfação.
Senhora da coragem,
Dama eterna da aventura.
Infinita suavidade,
Alma pura de donzela,
Amor-paixão revoltoso,
Deificação da minha ternura.
Que a tua imagem
Apague a desventura da terra,
Que o teu coração
Impeça a morte lenta,
Que a tua ternura
Encha o mundo de ventura.
(Já não me lembrava de escrever assim,
já não me lembrava de mim assim.)