26 de Fevereiro de 2007

Ah!
Vinicius de Morais é eterno.

cliquem aqui: EU SEI QUE VOU TE AMAR
publicado por carlos lopes às 10:15

23 de Fevereiro de 2007
No último JL (nº 949) uma página do volume II do diário de Luísa Dacosta (ainda inédito):

16 de Março de 2005
Matosinhos

"Todos os dias, a todas as horas, em todo o mundo, chovem lágrimas de mulher. Lágrimas, em quartos fechados pelo desespero, sem janelas nem portas, sem saída. Lágrimas que as envelhecem de sulcos, de rugas, e lhes fazem ranger a alma. Lágrimas da que perdeu o filho na guerra, da que foi violada pelos usurpadores do seu país, da que viu o filho estalar de fome, comido de moscas, e da outra que o viu explodir ao tornar-se bomba, contra a injustiça e a opressão. Lágrimas de viúvas de vivos, que emigraram e as deixaram sós. Chovem, incessantemente, lágrimas de mulher. Da que foi usada, espancada e está sozinha. Da que não viu o seu corpo florir em filhos. Da outra cheia de frio e abandono, a dormir debaixo da ponte, agasalhada pelo álcool ou pela droga. Da que espera a morte, na solidão dos cuidados intensivos. Lágrimas da que só foi carregada de trabalhos, como besta de carga, sem afectos, sem cartas, sem palavras. A que foi abandonada, que não teve marido nem amante, só explorada e calcada aos pés.
O sol continua maligno, de quase verão, mas chovem, incessantes, lágrimas de mulher, que são, atrás da janela, a chuva que não cai, os soluços, secos, que ninguém ouve, pela filha que se suicidou ou teve que enterrar no dia de Natal, pelo cadáver, pulverizado num voo ou que o mar não devolveu à praia. Lágrimas inúteis, soluçadas e que, apesar de serem caudais infinitos, não são bênção de água, não florescem, não dão fruto, sombra, asas ou canto. Incessantemente, chovem lágrimas de mulher. E o sol, maligno, transforma-as em secos desertos de sal."

(ao mesmo tempo tão doloroso e tão belo)

publicado por carlos lopes às 11:33

22 de Fevereiro de 2007
8H20 da manhã. Estaciono o carro e subo a coluna até ao quiosque onde compro o jornal.
Entro na sala depois de ligar as luzes no quadro. Ligo o meu computador e entreabro a janela para deixar entrar um pouco de ar fresco. Sento-me e começo a fazer as seguranças de todas as aplicações. Enquanto correm e gravam as seguranças, primeiro no HD e depois no CD, dou uma vista de olhos no jornal (obviamente que começo pelo Calvin & Hobbes).
9H00. Começam a chegar os colegas. Agarro no telemóvel e vou tomar um café numa rua perto. A estátua do D. João Peculiar continua de esguelha.
À saída do café passo pelo baterista dos Mão Morta que anda a passear o cão. Rafeiro. Ao fundo da rua comprimento um vira-casaca de alto posto dentro do serviço. Já não anda de emblema com a foice e o martelo na lapela. Agora só se tiver cascas de laranja no bolso.
De novo sentado em frente ao computador abro o Windows Media Player e ponho a sair das colunas do computador as músicas que tenho gravadas no disco duro.
Começo com “You Make Me Feel Brand New” dos Simply Red
publicado por carlos lopes às 11:24

21 de Fevereiro de 2007
...
O desdém e a calma dos mártires,
A mãe de outrora, condenada como bruxa, queimada com madeira
             seca, sob o olhar dos filhos,
O escravo perseguido pelos cães que tomba durante a corrida, se
             apoia na sebe, ofegante, coberto de suor,
A dor aguda e súbita que o aguilhoa nas pernas e no pescoço, o
             criminoso chumbo grosso e as balas,
Tudo isto eu sou ou sinto.

Sou o escravo perseguido, recuo com o ataque dos cães,
Inferno e desespero invadem-me, os atiradores disparam sem parar
             sobre mim,
Agarro-me à vedação da sebe, o meu sangue escorre lento, diluído
             com a lama da minha pele,
Tombo em cima das ervas e das pedras,
Os cavaleiros esporeiam os cavalos relutantes, aproximam-se,
Gritam-me injúrias às minhas orelhas estonteadas e espancam-me
             violentamente com o cabo dos chicotes.

As agonias são uma das minhas mudanças de vestuário,
Não pergunto ao ferido como se sente, eu próprio me transformo
             no ferido,
As minhas feridas ficam lívidas no meu corpo enquanto me apoio
             numa bengala e observo.
...
WALT WHITMAN , Folhas de Erva
publicado por carlos lopes às 13:58

16 de Fevereiro de 2007
A Aragana está de volta.
Ali, no lado direito, está o link actualizado.
Bom fim-de-semana
publicado por carlos lopes às 19:50

No Youtube encontra-se de tudo. Incluindo videos de músicas.
Na busca que fiz encontrei alguns videos de cantoras de que gosto muito.
Alguns são verdadeiros clássicos.
É só clicar na respectiva ligação.



Para mim uma das divas do pop
Alison Moyet, Terderness

tenho gostado muito deste video
Tina Arena,Aimer jusqu'a l'impossible

(video de desenho animado)
Nina Simone, My baby just cares for me

Vi este concerto na RTP há muitos anos. Inesquecível.
Marlene Dietrich, where have all the flowers gone

Um classico revisitado, por quem de direito
Natalie Cole (and father), Unforgettable

A "Pimentinha", que fazia o aniversário no mesmo dia que eu.
Elis Regina, Águas de Março

Esta é uma afirmação das raízes
Gloria Estefan, Mi Terra
publicado por carlos lopes às 09:42

14 de Fevereiro de 2007
Ah!
e este poema de José Luís Peixoto:

o meu irmão chegou a casa. nem eu, nem a minha mãe
perguntámos de onde vinha. o meu irmão trazia a vara
com que feriu o rio, trazia amor e pó nos bolsos vazios.

o meu irmão esqueceu a guerra quando lavou as mãos.
puro, ergueu as mãos ao céu, nem eu, nem a minha mãe
quisemos acreditar na noite. ficámos tristes pela noite.

o meu irmão esqueceu a guerra quando lavou as mãos
com sangue. senti pena do meu irmão porque estava na
margem do rio onde o vi nascer. o meu irmão chegou a casa.

o meu irmão estava cansado. carregava uma muitidão na
sua sombra. homens e crianças pediam água. o meu irmão
chegou a casa e sentou-se numa pedra que está no quintal.

o meu irmão segurou um livro velho e não conseguiu ler
nenhuma das suas páginas. pesava-lhe a memória de tudo
o que tinha esquecido. cansado, ergueu as mãos ao céu.

o meu irmão deixou que uma sombra pousasse sobre o
seu rosto. o sul e o deserto cresciam sem o sossego, sem
a paz. o meu irmão quis esconder um segredo pela noite.

o meu irmão chegou a casa. eu e a minha mãe queríamos
ajudá-lo, mas era impossível, porque uma nuvem de raiva e
de medo cobriu o dia e um fogo imenso brilhou ali pela noite.

    José Luís Peixoto, inéditos, 2006
publicado por carlos lopes às 10:33

13 de Fevereiro de 2007
Febre. Dores musculares. Garganta irritada, dorida e inflamada.
Fui atacado pelo influenza.

Dia cinzento a todos os níveis e desconfio que vêm aí problemas.
publicado por carlos lopes às 19:28

08 de Fevereiro de 2007

(durante uma pequena meia-hora de pausa)


Inocências em tons cardíacos e aquáticos

 

Estavas os teus pecados

A lavar no ribeirão

Límpida vinha a água de cima

Para baixo cor de carvão

 

Foste chorar teus desgostos

Nas pedras do ribeirinho

As pedras tiveram pena

E te trataram com carinho

 

No rio estavas olhando

Vendo a água passar

Teu coração era leve

Como passarinho a voar

 

O mar tem muito sal

Que faz mal ao coração

Será esse o meu mal

Por te dar tanta atenção

 

Desaguou o ribeiro no rio

Como eu desejo a tua boca

Fiquei a suspirar por mar

Como um navio na doca

 

publicado por carlos lopes às 15:03

07 de Fevereiro de 2007
No mesmo artigo e sobre o filme Il Miracolo (também com Anna Magnani):

«...A "superficialidade dos homens" manisfestou-se ainda mais do que em Una Voce Umana. Muito tempo antes de Je Vous Salue, Marie, o filme foi considerado uma blasfémia. O Cardeal Spelmann, da América, ameaçou de excomunhão quem o visse.
Foi então que Rossellini lhe mandou um telegrama, a transcrever na íntegra um sermão de São Bernardino de Siena. Custou-lhe mil dólares, o que em 48 era dinheiro.
Um camponês, uma criança e um cão. O camponês foi trabalhar, deixou a criança a dormir à sombra de uma árvore e o cão a guardá-la. Quando voltou, a criança estava morta com duas marcas de dentes bem visíveis na garganta. O cão tremia todo. Desvairado, o homem matou o cão. Mas, quando o corpo do animal caiu, ele descobriu assombrado que o cão esmagara uma enorme serpente, que matara a criança e o estava a matar a ele. O cão chamava-se Bonino. O camponês, arrependido, enterrou-o na cova de um rochedo, e escreveu: "Aqui jaz Bonino, morto pela superficialidade dos homens".
Passaram-se séculos. Chegaram peregrinos, descobriram os ossos, e pensaram tratar-se de um mártir. Rezaram e sucederam-se milagres. Edificaram uma igreja dedicada a São Bonino. Veio muita gente de muitas partes e houve muitos mais milagres. Concluiu São Bernardino de Siena: "O que importa é a fé dos homens. Nada mais conta. O resto é a superficialidade dos homens".
Não sei como reagiu o Cardeal. A superficialidade dos homens é tamanha..."
publicado por carlos lopes às 13:52

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