Espero que gostem.
Tocata e Fuga em D minor de Bach.
No restaurante típico, naquela mesa que não estava nem num canto nem na zona central mas sim num espaço intermédio (como se não soubesse ou quisesse a que lado pertencer) o casal falava de modo intenso. Nem muito alto nem muito baixo mas vibrantemente. Reparei que havia uma grande diferença de idades. Se de início poderia pensar que era uma relação familiar agora tinha a certeza que não o era.
Às tantas ela solta uma frase um pouco mais alta. Frase que pela intensidade tanto do olhar como da voz implicava tudo para ela. Ele recosta-se e ouço-o dizer calmamente e condescendentemente: estás a ser ingénua.
Ela olhou-o, cheia de raiva e disse-lhe: vai-te foder! Agarra no copo de vinho e atira-o à cara dele saindo porta fora.
Ele, muito calmamente, diz para o empregado que tinha acorrido pressuroso: remova da mesa todos os vestígios dela.
De uma mesa, num canto, eu, comensal solitário, penso para comigo: dá deus nozes a quem não tem dentes. Enfim, invejas.
(Apenas por graça: vi, certa vez, uma piada gira. Um jovem, ao estilo James Dean, encostado à parede de um edifício, vê passar um velho de braço dado com uma fulana jovem e bem apetitosa e diz esta frase clássica: dá deus nozes a quem não tem dentes. O sicrano mais velho pára e dirigindo-se ao jovem diz-lhe: desculpe-me mas está errado. Dá deus dentes a quem não tem nozes.)
Enfim, voltando à estória.
Reparei então numa senhora, já de alguma idade, numa mesa próxima da que estou a falar. Estava a sorrir mas era um sorriso condescendente e o indivíduo que tinha levado com o copo reparou e disse: eu sei, um homem, às vezes, faz figura de parvo. Ao que a senhora ripostou: ela é demasiado nova para si. Quer acompanhar-me na refeição?
Ele levantou-se e foi sentar-se à mesa dela continuando a conversar o quê já não sei porque entretanto pedi a conta, paguei e saí.
Cá fora era noite e lua cheia, enorme e fascinante, iluminava as ruas.
(cena vampirizada do filme O Feitiço da Lua)