Hoje, sete e meia da manhã. Levanto-me e espreito o termómetro exterior. Um grau negativo. Brrr . Enquanto tomo o pequeno-almoço leio a entrevista que Manoel de Oliveira dá ao Jornal de Letras:
"Eu vou contar uma história de um poeta brasileiro. Havia um homem que vivia num morro, onde tinha a sua casinha e um horto. E em baixo passava o rio. Sempre que o homem tinha tempo livre, descia o morro e atravessava o rio numa canoa para ir ver a sua namorada na aldeia defronte. E um dia desceu, todo arranjado, para a visitar. Era noite, mas havia um luar muito claro, e ele, ainda do rio, pôde ver a noiva a dançar com outro e com tal entusiasmo que o homem ficou desanimadíssimo . E, sem coragem para ir à aldeia, regressou. Mas, entretanto, houve uma derrocada, e a casa dele e o horto que cultivava desfizeram-se. E então ele disse: «Saudade é a terra caída num coração que sonhou.» Acho isto muito lindo. saudade é o que de bom tivemos e duvidamos que possamos voltar a ter."