Ri-te murcão!
Ri-te trombuda!
Ri-te, ri-te, ri-te!
Uma é loura, outra morena e
vou passar o serão com uma.
Que me dizem,
escolho a mãe
ou a filha
pois tenho
o coração dividido.
Apenas quando as lágrimas me dão
um sentido mais profundo ao teu segredo
é que me sinto puro e me concedo
A graça de escutar o coração.
(David Mourão Ferreira)
Nas tuas ondas cristalinas
deixa-me dar-te um beijo
na tua boca de menina
deixa-me dar-te um beijo, óh Tejo
um beijo de mágoa
um beijo de saudade
pra levar ao mar e o mar à minha terra.
(B.leza)
Alfama não cheira a fado
cheira a povo, a solidão
cheira a silêncio magoado
sabe a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
mas não tem outras canção.
(Ary dos Santos)
Meu amor, vai-te deitar, já é tarde
diz meu pai sempre que vem perto de mim
nesse misto de orgulho e de saudade
de quem sente um novo amor no meu jardim.
(Paulo Abreu Lima)
Como se eu mandasse nas palavras
quiseram que emendasse o que está escrito
para quê? se eu mandasse nas palavras
daria agora o dito por não dito.
(Fernando Tordo)
No meu deserto de água
não havia luz para te olhar
tive que roubar a lua
para te poder iluminar.
(Javier Limón)
Querem ouvir isto cantado?
Comprem o último disco de Mariza, Terra.
Olhem que vale a pena!
p. s. Versos democráticamente surripiados da entrevista que Manuel Halpern faz a Mariza no último número do Jornal de Letras (também vale a pena, garanto-vos. Aliás, todo o JL)
Havia uma leoa chamada Elsa...
mas, afinal, não é nada disto
nem Elsa se chama
mas tem um nome bonito,
de certeza!
J'attendrai
Le jour et la nuit
J'attendrai toujours
Ton retour
J'attendrai
Car l'oiseau qui s'enfuit
Vient chercher l'oubli
Dans son nid
Le temps passe et court
En battant tristement
Dans mon coeur si lourd
Et pourtant j'attendrai
Ton retour
J'attendrai
Le jour et la nuit
J'attendrai toujours
Ton retour
J'attendrai
Car l'oiseau qui s'enfuit
Vient chercher l'oubli
Dans son nid
Le temps passe et court
En battant tristement
Dans mon coeur si lourd
Et pourtant j'attendrai
Ton retour
Le vent m'apporte
Des bruits lointains
Guettant ma porte
J'écoute en vain
Hélas, plus rien
Plus rien ne vient
J'attendrai
Le jour et la nuit
J'attendrai toujours
Ton retour
J'attendrai
Car l'oiseau qui s'enfuit
Vient chercher l'oubli
Dans son nid
Le temps passe et court
En battant tristement
Dans mon coeur si lourd
Et pourtant j'attendrai
Ton retour
Et pourtant j'attendrai
Ton retour
Le temps passe et court
En battant tristement
Dans mon coeur si lourd
Et pourtant j'attendrai
Ton retour
(Nino Rastelli, versão francesa de Louis Poterat)
Fim-de-semana.
Almoço e jantar em casa do mano novo.
A filhota mais nova, Mariana, com 3 anos, está a desenhar.
O avô a apreciar a habilidade da neta:
- É uma casa?
- Não é um quadrado, tótó!
Se tivesse voz cantaria o fado. Adoro letras de amores desavindos, guitarras sofridas…
De onde vem tamanho arroubo? Dos tempos de mulher-a-dias, na casa de uma patroa com dons de fadista. Gosto de música que toca o coração. E de tasquinhas com alma. Daquelas escondidas, onde o cabelo não ganha o odor de frigideira.
Silêncio que se vai cantar o fado? Quem não se calaria para me ouvir cantar? Mina, uma fadista negra!
Que tens feito? De tudo um tanto. Sou actriz sem muito emprego há já nove anos…
Trabalhas muito? Ui, desde miúda! Aqui e acolá, nisto e naquilo. Sou operária, já fiz de tudo, sempre com muito orgulho. Para pagar o Conservatório até limpei prédios
É bom ser actriz? É como ter os bolsos descosidos. A minha sorte é ao trabalho, dizer bom-dia. Não me caiem os sonhos nem os parentes na lama. Sou gente simples, venho de um bairro dito coisa ruim. O meu pai é pedreiro, fala muito crioulo, quase nada de português. A minha mãe, coitada, é praça no batalhão das mulheres que limpam as casas deste país…
E o teu (retrato), qual é? Posso dizer que sou alegre. Faço vénia à vida, risos e paixões. De calos na mão e cinema na cabeça, sou feliz. Mas o meu traço mais fundo é outra história. Chama-se cor. Troco tudo, menos este meu tom. Mudaria até de sexo, ser homem é sorte dobrada. Quanto melhor penso, mais juro – só não mudava de cor. Oh, de cabelo também não. Sou preta, tenho carapinha. A minha cor e as minhas melenas fazem de mim quem eu sou.
(Mina Andala, 30 anos, actriz e o mais que houver para fazer)
Texto de Ana Sofia Fonseca, revista Única do último Expresso.
Isto é uma maravilha,
um autêntico espectáculo.
Quadros de Dali ao som do
4º andamento da 9ª de Beethoven.
Chego a casa. Vou à cozinha e tiro uma cerveja do frigorífico. Entro na sala.
Abro o portátil e ligo-me à internet.
Youtube. Faço a procura por Edith Piaf.
Escolho a canção L’Accordeoniste (1954).
Reparem nas mãos dela!
Que mulher!
Que diva!
Passo algum tempo a digerir
este momento nas minhas emoções
mas ao fim de algum tempo escolho outro vídeo.
A escolha recai sobre Milord (1956).
Reparem que no final
o público não se cansa de gritar merci, merci, merci.