"Estive numa cela com Noémia Delgado e 17 camponesas, quase todas analfabetas, que lutavam por um horário de trabalho, inconformadas com a jornada de sol a sol. Assisti ao sofrimento de mulheres sujeitas a espancamentos brutais, que mal podiam erguer-se, mas o caso que mais me impressionou foi o de uma idosa, vestida com uma saia preta furada por balas. Era a única roupa que possuía para além da mortalha, que os filhos tinham comprado, a custo, julgando que não sobrevivesse a várias perfurações abdominais. Tinha-a guardada debaixo da cama para quando morresse..."
Luísa Ducla Soares, JL