Não há como o Jornal de Letras para me dar a conhecer uma poetisa extremamente interessante, Bénédicte Houart, uma nova voz que vale a pena ler.
«para poético preferi putas
esquinando as ruas
alvoraçando as noites
abanando o rabo na
praça pública
constipando-se
ensopando lenços
guardando intactos
sonhos bem precisos
não de regeneração, mas
sim de exultação»
«pus-me a escrever um poema
fosse tal e qual uma pedra e
acertasse sempre no que
eu bem quisesse
se parti alguma coisa, pois
não faço ideia
o que garanto é que
não fui multada
até recebi direitos de autor
ainda que injustamente
a pedra era obviamente um plágio
quanto ao poema, quem sabe»
«liga-me à sua maneira, diz do marido
uma mulher cheia de nódoas negras
ainda ontem me ofereceu
um ramo de margaridas
foi depois desta
e levanta a blusa e aponta
para uma negra na barriga
e antes desta, mostra outra
um ramo de violetas
bem cheirosas, ainda não murcharam
vai variando nas flores para
ver se me mantém entretida
que quer que quer é a vida...»
«ó boa ó amor ó querida
ah se eu não fosse pedreiro, mas
senhor arquitecto
construía uma catedral no teu coração e
tornava-me sino nos teus ouvidos
sepultava em vida o teu corpo
para que ninguém mais
ah pedreiro sou e minhas mãos
aprenderam das pedras a resignação»