O sino da igreja deu um toque, era uma da manhã. A lua cheia iluminava as ruelas da vila, fugindo dela seguia junto aos muros e paredes do casario mas o silêncio da noite denunciava o som dos meus passos na calçada portuguesa. Amaldiçoei-me por ter trazido os sapatos de sola em vez dos de borracha. Atravessando meia vila cheguei ao meu destino. O cão, meio arraçado de Castro Laboreiro, ainda ladrou duas vezes mas sentindo o meu cheiro reconheceu-me e calou-se. Encostado ao muro e junto à portinhola que dava para o campo de milho, assobio baixinho; dois curtos e um longo.
Vem – disse a cabecinha loira que assomou.
O teu marido? - Perguntei.
Dorme – disse ela puxando-me por um braço
Vem meu poeta que a noite ainda está a começar.